O QUE HÁ DE EFÊMERO É TAMBÉM O QUE HÁ DE BELO


Jovem, cheio de conjecturas e inquietações, sem uma noção exata do que se conspirava ao seu redor. Olhos sombrios carregando a tristeza do não pertencimento. Por vezes desgostava das coisas supérfluas, tendo tudo por vã: os bens, os valores sociais e as pessoas cuja a vida se resume na acumulação egoísta de bens, mas que no final são pobres em experiência.

Foi apresentado as agruras da vida pelo nascimento: mocambo, chão batido, barro vermelho em contraste com o telhado de varas irregulares e pretas pela fumaça da cana queimando, sua genitora, a parteira, a tesoura... e eis que o verbo se fez grito!

Cresceu querendo ser alguém no mundo, descobriu que como ele haviam muitos ninguéns. O universo era só uma representação abstrata, sensações limitantes do acaso, ainda assim pensou ser grande e ao pensar desvendou o mistério de existir como num paradoxo Cartesiano, ”vivemos para não morrer”, uma declaração tão óbvia, porém tão profunda a ponto de despertar o senso crítico de nosso personagem. É por natureza um pessimista, sente que cada vez mais as pessoas se tornam um pouco menos humanas e irracionais, em contrapartida mais robotizadas e individualistas.

A mãe doméstica, o pai trabalhador rural e como muitos, alcoólatra e viciado em jogos de azar, um casal de irmãos, ambos mais velhos que ele. Seus pais se separaram quando ainda tinha dois anos de idade, foi morar com a mãe e os irmãos na capital Pernambucana aos nove.

Foi alvo de preconceitos variados na escola em que estudou, acabou o ensino médio; conseguiu entrar na universidade; se formou e continuou sendo ninguém. Mas um ninguém que já não sentia a necessidade de ser alguém, apenas ele mesmo, para ser pleno. A vida foi moldando a vida do jovem entre erros, dores e acertos. Sempre teve consciência que sua história era só mais uma na efêmera existência humana, mas jamais pensou em apenas observar o tempo passar diante de seus olhos de forma estática. Afinal há de ter uma beleza em tudo e a maior delas é sentir-se vivo.
 (Adriano Martins)

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